sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Kalyn e o racismo.

Ela o segurou firme, encarando-o nos olhos, de forma a mostrar quem é que manda. - DRO: 0290 - 08/03/2143

Esta entre tantas outras passagens do diário demonstram um comportamento muito estranho da Kalyn em relação aos ramilis. Seja por omissão em prestar algum auxílio, falta de empatia ou até tratando-os como se fossem animais. A então Doutora não apresentou nenhum incômodo ao relatar a forma depreciativa com a qual tratava aqueles que são responsáveis pela maior parte dos serviços de manutenção do Maedro, sobretudo os mais perigosos.

Mas de onde vem esse comportamento?

Do berço...

A representação da Kalyn criança com o pé sobre o corpo de um homem em seus momentos finais, na imagem de capa, busca trazer luz ao fato de que o racismo que ela apresenta em toda a história lhe foi ensinado na escola, ou seja, é um mal inerente a toda tripulação, sendo a Kalyn, um mero exemplo da estrutura social vigente.

Os ramilis são como humanos, mas criados artificialmente mediante uso da avançada engenharia genética, capaz de disponibilizar indivíduos adultos, tão necessários às intermináveis necessidades de reparo desta antiga embarcação.

Mas qual a diferença entre humanos e ramilis? Aparentemente nenhuma, e este racismo apresentado por toda a sociedade funciona na obra como uma metáfora, pois se algo criado à sua própria imagem e semelhança pode ser considerado inferior, significa que você nada mais é do que um reflexo da exaltação de seu próprio ego.

O mesmo mecanismo social montado para fazer a classe oprimida acreditar ser realmente inferior e merecedora de tanto sofrimento, serve também para que a classe opressora observe suas próprias mazelas de forma mais aceitável, uma vez que é estranhamente reconfortante ver o outro em situação pior do que a sua. E assim o controle é mantido sobre todos os indivíduos.

O que será capaz de romper este ciclo?


segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Kalyn mereceu o final que teve?

Com o passar dos anos, vim recebendo comentários de um ou outro leitor acerca do livro, e dentre alguns pontos recorrentes, estava algo que particularmente me incomodava.
Os leitores não gostam da protagonista, Kalyn, e assim, são muitas vezes indiferentes quanto ao desfecho dela.

O objetivo aqui não é dar detalhes sobre o que acontece com ela. Sabemos do peso que um protagonista tem para a qualidade do livro como um todo, e sei que tal rejeição se deve pela forma com a qual resolvi contar a sua história.
Desde o início, eu já tinha em mente que poderia não ser uma boa ideia escrever o que tinha em mãos por meio de um estilo narrativo experimental. Ninguém iria comprar, e os poucos que lessem, não iriam gostar. Mas mesmo assim eu fui lá e fiz... e os resultados vieram.

Imagine trabalhar mais de dois anos em cima do projeto (e quem escreve sabe do que estou falando), para chegar a esta altura do campeonato e amargar o fato de que muitos leitores não gostam do seu personagem ou comentam coisas das quais você não estava de fato esperando.


Isso me fez lembrar do pós lançamento do jogo BioShock 3 e sua Elizabeth.


Quando ao saber que muitos fãs estavam reproduzindo a personagem sem roupa e a internet ficou lotada dessas ilustrações, os produtores chegaram a fazer um pedido para que a comunidade parasse com aquilo, pois para eles a personagem seria como uma filha, e lhes doía muito vê-la retratada daquela forma.
Nunca esqueci disso até porque devido a complicações que não vem ao caso, não posso ter filhos, então esse tipo de coisa acabou tendo um peso maior pra mim.

E fiquei por muito tempo... pensando... Kalyn... o que vou fazer com você?
Teria de reescrever toda a história, mudando o ponto de vista a fim de retrata-la de uma forma mais virtuosa?

O livro é um diário, um registro pessoal escrito pela Kalyn para ninguém menos do que ela mesma. E o que eu fiz foi, em tese, violar a sua privacidade e intimidade, expondo-a a um juízo de valor por vezes injusto, sendo comparada a outros personagens que nem de perto foram submetidos ao mesmo tipo de invasão.

E em um exercício filosófico, imagino que, se a Kalyn soubesse que eu contaria a sua história desse jeito, teria ao menos escrito o diário de forma a esconder os seus defeitos, logo, ela me odiaria pelo que fiz. Pois é... a minha personagem me odeia...
O fato de os leitores não gostarem dela era enfim, minha culpa.

Desta forma, os comentários me inspiraram a retratar graficamente este ponto peculiar, a fim de traduzir tal tema angustiante como um dos elementos da principal ilustração do livro.


Pedi que o ilustrador colocasse a minha pessoa lá aos fundos, de forma sorrateira, com um objeto na mão, representando o roubo do diário da protagonista, de forma covarde, admito, mas com um objetivo maior em mente.



No fim das contas não tem a ver com ser melhor, mas ser sincero. E os leitores neste caso representariam mais dedos apontados contra a Kalyn, o que soma em traduzir os sentimentos envolvidos na história.

Seja você mesmo! Muito embora possa ser bastante doloroso, quando estiver sozinho, rejeitado, no escuro e sem esperanças, ninguém irá ligar para você. Só terás a ti mesmo. E isso nada significará se você não for verdadeiro!
Kalyn passa toda a história tentando ser outra pessoa, e no fim só precisava ter alguém com quem falar, alguém que pudesse entendê-la. Não haveria porque mudar nada no texto, haja vista que a comunicação entre leitor e personagem já se provou uma constante.

Desta forma, os leitores que não gostam da Kalyn também fazem parte dessa história. E o resultado, julgo eu. Ficou muito bom.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Mudanças a caminho.

Uma nova edição do Diário de Kalyn está sendo preparada, de forma que o livro foi reaberto para leitura beta e enfrenta também algumas alterações pontuais para reforçar ligações com os futuros projetos que se passam no mesmo universo.

Não haverá qualquer problema para os que já adquiriram a obra na Amazon, uma vez que o conteúdo será atualizado na plataforma, bastando para tal, atualizar em seus respectivos aparelhos.

Por hora, todo o conteúdo do blog foi apagado para dar lugar a nova apresentação, contudo, alguns detalhes ainda estão disponíveis no menu ao lado.

Até breve,